segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Novos hábitos abalam indústria alimentícia

No mercado vigora o modelo da oferta e da procura. A indústria - que visa ao lucro - só produz o que se vende, principalmente, nos supermercados. Se existe um mercado gigantesco de refrigerantes, bebidas açucaradas, chocolates e biscoitos recheados, é porque há uma demanda global para estes produtos. Contudo, os novos hábitos alimentares dos consumidores serão capazes de mudar a mentalidade das gigantes dos alimentos.

Já é possível vislumbrarmos sinais de mudança em um horizonte próximo. A população está cada vez mais informada sobre a qualidade/nocividade de cada produto. Apesar dos maus hábitos e das viciadas práticas alimentares diárias (baseadas em carboidratos refinados, açúcar e produtos altamente processados), está cada vez mais difícil enganar as pessoas. Os governos apertam o certo contra o marketing desmedido e impõe medidas restritivas, como maior tributação dos produtos ricos em açúcar e gordura trans. O Chile é um exemplo próximo (confira a matéria aqui).

Um novo padrão de consumo alimentar se desenha. Se a procura dos novos e conscientes consumidores for por alimentos saudáveis, a indústria terá que se adaptar e oferecer ao público o que ele deseja. 

Por exemplo, quando a demanda por morangos orgânicos crescer, for significativa e economicamente interessante (hoje a um custo elevado), os produtores terão que abandonar os agrotóxicos e aumentar a produção natural, se quiserem vender. Até lá, estão na cômoda posição de vender morangos repletos de venenos, pela metade do preço.

Confira, abaixo, a matéria publicada na Folha de São Paulo:



Mudança de hábito abala gigantes dos alimentos

Procura por comida saudável reduz receita



    Fabricantes de bebidas açucaradas e alimentos industrializados estão sofrendo para elevar as vendas, diante de consumidores mais conscientes sobre saúde e preços, o que os força a reduzir custos para elevar lucros e buscar aquisições para melhorar os resultados.
Os desafios ficaram evidentes na sexta (16) quando três gigantes dos alimentos Kraft Heinz, Coca-Cola e Danone anunciaram resultados para o quarto trimestre que mostram o abandono pelos consumidores de produtos que deliciavam gerações anteriores de queijo industrializado fatiado a refrigerantes com teor de açúcar de 39 gramas, em favor de alternativas mais saudáveis.
Nosso desempenho financeiro em 2017 não refletiu nosso potencial, disse Bernardo Hees, presidente da Kraft Heinz, que teve queda de vendas de 1,1% nos EUA sétima queda consecutiva.
A mudança no gosto do consumidor movimentou os maiores fabricantes de alimentos e bebidas do planeta.
A Coca-Cola, que reportou suas mais baixas vendas de refrigerantes em 31 anos, anda assim conseguiu alta de 6% nas vendas orgânicas, com a ajuda de água vitaminada, chás e similares e de outras bebidas que incluiu em sua linha, em boa parte por aquisições.
Hees, da Kraft Heinz, deu a entender que o principal acionista da empresa o grupo 3G, dos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles poderia buscar novas aquisições, depois de uma queda de 20% nos preços das ações.
Se houver mais consolidação no setor, Hees afirmou, queremos ser parte disso.
Desde a fusão de US$ 100 bilhões da Kraft com a Heinz, a 3G vem seguindo o manual de corte de custo. A margem de lucro bruta subiu a 37%, ante 27% quando da formação da companhia, em 2015.
Na quinta (15), ela anunciou que atingiu meta de redução de custos. A receita líquida subiu a US$ 8 bilhões, refletindo o benefício da reestruturação tributária nos EUA.
A Coca-Cola planeja economizar US$ 3 bilhões até o ano que vem em seu plano de cortes de custos.

SOPA

Outras empresas de alimentos e bebidas se saíram pior. A Campbell Soup reportou queda de 2% nas vendas orgânicas no quarto trimestre, devido à baixa demanda por suas tradicionais sopas na América do Norte.
A Nestlé revelou que as vendas do ano passado cresceram em seu ritmo mais lento em duas décadas.
A Danone, de iogurtes e água mineral, disse que as vendas de suas linhas de produtos estabelecidas há pelo menos um ano haviam crescido 2,9% em 2016, expansão mais lenta em 20 anos.
Para analistas, a consolidação será inevitável neste ano, como resultado da batalha por vendas entre as empresas estabelecidas.
Mark Schneider, presidente da Nestlé, avisou que a tendência de abandono das supermarcas de alimentos industrializados chegou para ficar. Houve um padrão em 2017 no setor de alimentos e bebidas., disse. O setor todo demorou um pouco a reconhecer o fato, mas agora está em nossa mira.
Tradução de PAULO MIGLIACCI.

Nenhum comentário:

Postar um comentário