quarta-feira, 29 de março de 2017

Abstinência de carboidratos


O início de uma alimentação natural e saudável pode não ser fácil para a maioria das pessoas. Afinal, durante anos a fio, elas se acostumaram a consumir carboidratos refinados todos os dias, praticamente durante o dia inteiro. Ainda mais aqueles que seguem a orientação de comer a cada três horas. 

O corpo está acostumado a retirar sua energia da dieta, dos carboidratos engordantes em excesso. Para nosso organismo, é muito fácil, fisiologicamente falando, transformar glicose em energia. Evoluímos para o armazenamento de gordura e não construção de músculos.

No livro "Barriga de Trigo", o autor William Davis faz uma interessante abordagem do que ele chama de "abstinência", ou seja, aquele período onde os carboidratos refinados (pão, bolo, bolachas, biscoitos e afins) são retirados da alimentação. Confira:

" As pessoas que sofrem com a abstinência são geralmente as mesmas que, em sua dieta anterior, sentiam ansiedades incríveis por produtos de trigo. São aquelas que, por hábito, consomem pretzels, bolachas e pães todos os dias, em consequência do poderoso impulso acionado pelo trigo. 

Essa vontade de comer repete-se em ciclos de aproximadamente duas horas, como reflexo das flutuações dos níveis de glicose e insulina resultantes do consumo de produtos do trigo. Deixar de fazer um lanche ou pular uma refeição causa perturbações a essas pessoas, com tremores, nervosismo, dor de cabeça, fadiga e fome intensa, sintomas que podem persistir enquanto durar o período de abstinência. 

Qual a causa dos sintomas de abstinência de trigo? É provável que anos de elevado consumo de carboidratos façam com que o metabolismo confie num fornecimento constante de açúcares de rápida absorção, como os contidos no trigo. A remoção dessas fontes de açúcar força o corpo a se adaptar à mobilização e queima de ácidos graxos, no lugar de açúcares mais acessíveis, um processo que exige alguns dias para se instalar. 

Entretanto, esse passo é necessário para passar de uma situação de armazenamento de gorduras para outra de mobilização de gorduras, que reduzirá a gordura visceral da barriga de trigo. A abstinência de trigo tem os mesmos efeitos fisiológicos que as dietas de restrição de carboidratos. (Os adeptos da dieta de Atkins chamam esses sintomas de “gripe da indução”, a sensação de cansaço e dor que se desenvolve com a fase de indução sem carboidrato do programa.) 

Soma-se ao efeito da abstinência, também, a privação do cérebro das exorfinas derivadas do glúten do trigo, fenômeno que provavelmente é responsável pela ansiedade por trigo e pela disforia. 

Há duas maneiras de amenizar esse golpe. Uma consiste em reduzir o trigo aos poucos durante uma semana, o que funciona somente para algumas pessoas. Tome cuidado, porém: há quem seja tão dependente do trigo que considere arrasador até mesmo esse processo gradual, por causa da instigação repetitiva dos fenômenos de dependência a cada mordida num bagel ou num pão. 

Para quem sofre de forte dependência em relação ao trigo, a retirada sumária pode ser a única forma de romper o ciclo. É semelhante ao que acontece no alcoolismo. Se seu amigo toma um litro e meio de bourbon por dia e você insiste com ele para reduzir o consumo a dois copos por dia, ele certamente teria mais saúde e viveria mais tempo se fizesse isso – mas seria praticamente impossível para ele seguir seu conselho. 

Quanto à segunda maneira, se você acha que está entre aqueles que experimentarão sintomas de abstinência, é importante escolher a hora certa para fazer a transição para uma vida sem trigo.  Escolha um período em que você não precise estar em sua melhor forma – por exemplo, uma semana de licença do trabalho ou um fim de semana prolongado. 

A lentidão e a confusão mental que algumas pessoas manifestam podem ser significativas, tornando difícil manter a concentração e o desempenho no trabalho. (Você certamente não deve contar com nenhum tipo de solidariedade de seu chefe ou de seus colegas de trabalho, que provavelmente zombarão de sua explicação e dirão coisas do tipo “Tom está com medo dos bagels!”.) 

Embora os sintomas da abstinência do trigo possam ser irritantes e até fazer você ser grosseiro com seus familiares e colegas de trabalho, eles não são prejudiciais à saúde. 

Nunca vi nenhum efeito verdadeiramente nocivo, e nunca houve nenhum relato desse tipo de efeito, além dos já descritos. Para algumas pessoas, é difícil passar adiante as torradas e os bolinhos; trata-se de um ato carregado de emoção e de desejos crônicos que, por meses e anos, podem voltar a se manifestar – mas faz bem à sua saúde, não mal. 

Felizmente, nem todos experimentam uma síndrome de abstinência completa. Alguns não chegam a sentir nada, e se perguntam qual é o motivo para tanta reclamação. Algumas pessoas são capazes de simplesmente parar de fumar de uma vez, sem nunca olhar para trás. O mesmo pode ocorrer com o trigo." (William Davis. "Barriga de Trigo")

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