sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Sensibilidade e resistência à insulina

Durante a alimentação, especialmente quando comemos carboidratos em excesso (o que é normal para os padrões nutricionais atuais), o pâncreas secreta e bombeia insulina para o sangue. Contudo, se o fígado e os músculos já estão cheios de glicogênio, essas células começam a se tornar resistentes ao chamado da insulina. 


Os receptores - que aumentam ou diminuem em resposta ao estímulo - de insulina na superfície dessas células começam a diminuir em número, bem como em eficiência. O termo é chamado "regulação para baixo" (downregulation).

Na medida em que a glicose não pode entrar nas células musculares ou hepáticas, ela permanece na corrente sanguínea, acumulando-se indevidamente. Agora o pâncreas sente que ainda há muita glicose (não utilizada) tóxica no sangue, então, desesperadamente, secreta mais insulina ainda - que faz com que os receptores na superfície das células tornem-se ainda mais resistentes, especialmente em pessoas predispostas geneticamente.

Como é o açúcar, e não a gordura, que é armazenada no tecido adiposo, a insulina guardará o excesso de glicose no interior das células adiposas, onde ela é armazenada como gordura. 

Com o passar dos anos, tendo em conta que continuamos a comer dietas ricas em carboidratos e a fazer menos exercícios físicos, o grau de insensibilidade à insulina aumenta progressivamente, abrindo a porta para a instalação de uma série de doenças.

Sabemos que o excesso de açúcar no sangue é guardado primeiramente na forma de glicogênio no fígado e nos músculos e somente quando este estoque, limitado, está cheio, a indesejada sobra é armazenada no tecido adiposo.

Com o acúmulo no organismo da enzima LPL, estimulada pela insulina, muito presente devido a inadequada ingestão de carboidratos e açúcares, estes receptores de insulina nos músculos começam a ficar menos receptivos à ação da insulina. 

Desta forma o pâncreas precisa começar a liberar insulina em maiores quantidades para vencer esta resistência dos receptores. Neste caso, o corpo está desenvolvendo resistência a insulina.

A medida que os receptores musculares ficam menos receptivos à insulina, os receptores das células de gordura ficam mais receptivos à insulina. Quando o corpo tenta guardar os excessos na forma de glicogênio e não consegue, ele recorre a gordura corporal. E este é um processo que só irá se agravar.

Com o tempo fica mais difícil o acesso aos músculos para guardar energia e mais fácil o acesso à gordura para armazenamento. Um agravamento desta condição leva ao caso grave que conhecemos como Diabetes tipo 2 (que se caracteriza pelo excesso de insulina produzida pelo pâncreas, mas as células-destino deixam de responder).

O pâncreas começa a liberar quantidades enormes de insulina para tentar estabelecer o equilíbrio corporal e cada vez mais os órgãos ficam resistentes a este hormônio.

A boa notícia é que mesmo após desenvolver uma resistência a insulina (não ainda Diabetes), este processo pode ser reversível. Parece ser possível fazer com que os receptores de insulina nos músculos voltem a ser mais receptivos ao hormônio, da mesma forma em que haveria a possibilidade de fazer com que as células de gordura fiquem mais acessíveis a queima de seus estoques. 

Como? Fazendo exercícios físicos regulares e mantendo uma dieta saudável.

Quanto mais receptivos os músculos são à insulina e mais correta sua alimentação, menos ocorrerão picos de insulina no sangue. 

Este processo é bem explicado por Mark Sisson (vide o artigo original):

  • Os níveis de glicose no sangue permanecem altos por mais tempo porque a glicose não consegue entrar nas células musculares. Essa glicose tóxica é como lama na corrente sanguínea, entupindo artérias, juntando-se a proteínas para formar os danosos produtos finais de glicação avançada (AGEs) e causar inflamação sistêmica. Algum desse excesso de glicose contribui para o aumento dos triglicérides, aumentando o risco de doença cardíaca.
  • Mais açúcar é armazenado como gordura. Uma vez que as células musculares recebem menos glicogênio (porque estão resistentes), e dado que a insulina inibe a enzima lipase, queimadora de gordura, agora você também não consegue mais queimar a gordura armazenada tão facilmente. Você continua a ficar mais gordo até que eventualmente aquelas células de gordura se tornem elas mesmas resistentes.
  • E fica ainda melhor. Os níveis de insulina ficam mais altos por tempos maiores, porque o pâncreas pensa "se um pouco de insulina não está funcionando, então mais insulina deve funcionar". Errado. A insulina em si é tóxica em níveis altos, causando, entre outras aflições, o surgimento de placas nas artérias (que é o motivo de os diabéticos terem tanta doença cardíaca) e aumentando a proliferação celular em cânceres.
  • Enquanto a insulina impede o açúcar de entrar nas células musculares, ela também impede os aminoácidos de entrar. Então agora você não consegue construir ou manter seus músculos. Para piorar as coisas, outras partes do seu corpo acham que não há açúcar suficiente armazenado nas células, então mandam sinais para começar a canibalizar o seu precioso tecido muscular para fabricar mais - você já adivinhou... - açúcar! Você fica mais gordo e perde músculo. U-hu!
  • O seu nível de energia cai, o que te deixa faminto por mais carboidratos e menos desejoso de se exercitar. Na prática, você passa a ansiar pelo veneno que está te matando.
  • Quando o seu fígado se torna resistente à insulina, ele não consegue converter o hormônio T4 (da tireoide) em T3, então você ganha aqueles misteriosos e teimosos "problemas de tireoide", que retardam ainda mais o seu metabolismo.
  • Você pode desenvolver neuropatias (danos aos nervos) e dor nas extremidades, à medida que os danos pelo excesso de açúcar destroem o tecido nervoso, e você pode desenvolver retinopatia e começar a perder a visão. Divertido.
  • Eventualmente, o pâncreas está tão exaurido que não consegue mais produzir insulina e você acaba tendo que injetar insulina para se manter vivo. Um bocado dela, já que você é resistente. Parabéns, você acaba de se graduar diabético tipo 2, insulino-dependente!
  • Essas são as más notícias. E são realmente más. Mas a notícia boa é que há uma maneira de evitar tudo isso. Está tudo lá, bem no seu DNA. Primeiramente, o exercício tem um impacto enorme na melhora da sensibilidade à insulina, dado que os seus músculos vão queimar o glicogênio armazenado durante e depois da malhação. 
  • Os músculos que se exercitaram querem desesperadamente aquela glicose do lado de dentro, e vão "regular para cima" os receptores de insulina para acelerar o processo. Essa é uma das razões pelas quais o exercício é tão crítico para diabéticos tipo 2 recuperaram a sensibilidade à insulina. É também a razão pela qual atletas de resistência podem comer 400 ou 600g de carboidratos por dia e continuar magros - eles queimam tudo e abrem espaço para mais.
  • O treinamento de resistência parece ser tão efetivo quanto uma atividade aeróbica, mas uma mistura dos dois é ainda melhor. E porque agora você é "sensível à insulina", você não precisa de muita insulina para armazenar o excesso - o que "regula para cima" todas as enzimas queimadoras de gordura, então você queima a sua gordura armazenada a uma taxa muito mais alta durante o dia. 
O referido especialista em saúde e boa forma, em seu essencial livro "Energia Paleo", diz:
(...) a questão da insulina é, talvez, o conceito mais importante. A insulina leva ingredientes a todas as células. Funciona transportando nutrientes para o fígado, músculos e tecido adiposo. Quando este sistema funciona conforme concebido pela evolução, os receptores celulares usam a insulina como uma chave para abrir os poros situados na membrana de cada célula. Com a porta aberta, os nutrientes são armazenados no interior de cada célula. É uma forma elegante de as células recolherem os nutrientes de que precisam e também de eliminar o excesso (tóxico) de glicose da corrente sanguínea e de armazená-lo como combustível para ocasiões posteriores.
Quando produzimos insulina em excesso, as células musculares e hepáticas tornam-se incapazes de armazenar grande quantidade de glicogênio (como visto, é a forma armazenada de glicose). Um indivíduo médio consegue armazenar apenas de 400 a 600 gramas de glicogênio no tecido hepático e muscular. Quando o fígado e os músculos se exaurem de glicogênio, toda a glicose que ainda se encontre no sangue e não seja usada imediatamente pelo cérebro ou músculos (como durante um exercício intenso) é convertida em triglicerídeos no fígado e enviado ao tecido adiposo, onde é armazenada. 
(...)
A insulina elevada diz às células adiposas que guardem a gordura e não a libertem para conversão em energia. Por fim, aqueles que fazem pouco exercício físico, as células musculares e hepáticas começam a se tornar resistentes à insulina, já que os seus receptores perdem a sensibilidade aos sinais de armazenamento da insulina (a chave não abrirá a membrana celular para permitir a entrada da glicose). Quanto mais insulina seu pâncreas produz, mais resistentes se tornam tais células. Isto ocorre porque os genes responsáveis por estes receptores se desligam ou recalibram em resposta ao - e como defesa contra o - excesso de insulina na corrente sanguínea. Tudo isto faz parte da busca pela homeostase, o equilíbrio do corpo, bem como da sua resposta genética aos sinais ambientais (da dieta). 
É possível evitar a instalação da Diabetes. Mas, uma vez diagnosticada, seus efeitos tendem a ser permanentes.

Assim, uma estratégia interessante para emagrecer de forma consistente e, principalmente, para manter-se saudável, seria evitar exatamente esta montanha russa hormonal (picos constantes de açúcar no sangue).

Idealmente, portanto, devemos ser sensíveis - e não resistências - à insulina!


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