domingo, 25 de setembro de 2016

Frutose: a doce e desconhecida vilã


Você já ouviu falar do HFCS ? Ou mais conhecido como xarope de milho com alto teor de frutose? Não sabe o que é? Pois deveria.
Mas, afinal, frutose não é aquele saudável açúcar proveniente das frutas?

Em nutrição, alguns dos mitos precisam ser esclarecidos.

Em 1972 o estudioso John Yudkin lançou um livro denominado “Pure, White and Deadly” (puro, branco e letal, sobre o açúcar), cujas proficientes profecias acabou acontecendo em relação ao consumo anormal do açúcar e todos os males daí advindos para a saúde da população.

A propósito, confira este artigo traduzido no blog Paleodiario.

Por causa da “Hipótese Lipídica”, de Ancel Keys, ferrenho crítico de Yudkin, no início da década de 80 o governo americano orientou a população para reduzir o consumo de gordura, com o suposto objetivo de reduzir as doenças cardíacas (que só aumentou!). Então o consumo de açúcar explodiu.

A dieta moderna se tornou alta em teor de carboidratos e baixa em gordura, pois supostamente deveria ser low-fat. O mundo ocidental foi modificado, para pior, com a indústria alimentícia. Seu alvo predileto: as crianças e adolescentes.

Um detalhe importante não pode passar desapercebido do atento leitor: a comida low-fat é insossa, tem gosto de papelão ou de isopor, já que era exatamente a gordura própria dos alimentos que os tornavam saborosos. Não teria interesse comercial. A indústria sabia disto.

O que fizeram então? Como fazer gordura processada ser gostosa e palatável? Como fazer isto sem a gordura? Basta adicionar açúcar (frutose)! Só que esta “mágica” do sabor foi o pior que poderia ter sito feito para a saúde das pessoas.

Por definição, fast-food é comida sem fibra, feita e consumida de forma rápida. Afinal, as pessoas estão sempre apressadas e correndo contra o relógio! Também, por isto, estes produtos criados pela indústria podem ser congelados e transportados para muitos lugares, milhares de quilômetros adiante.

Pois bem. A frutose é um tipo de açúcar (carboidrato) simples, encontrado de forma natural nas frutas, no mel e, em menor porção, em legumes, como as cenouras.

Outras fontes de frutose são os xaropes de milho enriquecidos com frutose, feitos a partir do milho e do trigo e utilizados, em larga escala, nos produtos industrializados e processados, melaço, suco de fruta concentrado e açúcar mascavo.

O açúcar comum (de mesa) que compramos no mercado é a sacarose, extraída da cana de açúcar, composta por 50% glicose e 50% de frutose.

Contudo, uma das fontes mais perigosas de frutose é o xarope de milho com alto teor de frutose. O high fructose corn syrup ou simplesmente HFCS chegou nos EUA em 1975 e logo o governo Richard Nixon tratou de baixar o custo. No final da década de 60 e início da de 70, o preço da comida oscilava muito, desagradando a população. Era preciso barateá-la, a fim de se tirar um proveito político da situação. 

Como consequência, houve uma crise em relação ao preço do açúcar. A indústria, buscando alternativas econômicas viáveis, descobriu que a frutose era (muito) mais barata e mais doce. A partir de 1975, o xarope de milho enriquecido com frutose foi introduzido no mercado americano, adoçando os produtos alimentícios. Era quase a metade do preço do açúcar comum. 

Desde então, a frutose começou a ser introduzida, em larga escala comercial, nos refrigerantes e sucos artificiais. Começava, definitivamente e não por coincidência, a epidemia da obesidade mundial.

Hoje o preocupante HFCS, fonte de lucro para a indústria, devido ao seu baixo custo de produção, foi introduzido em praticamente todos os produtos industrializados e processados, invadindo o mercado de alimentos, tais como pães (inclusive os integrais), refrigerantes, salsichas, bolos, doces, molhos de salada, ketchup, cereais matinais, isotônicos esportivos, barra de cereal etc.

A verdade é que nossas crianças e jovens estão consumindo grande parte das calorias diárias através do açúcar e do HFCS (ambos perigosos, socialmente aceitos ou ignorados, mas abundantemente consumidos) disfarçado e embutido nos produtos industrializados. Isto, sob o ponto de vista nutricional, é um desastre. 

Antes da Era da Agricultura, a frutose, em pequena quantidade, era naturalmente obtida por nossos antepassados apenas das frutas silvestres, sazonais e em pequenas quantidades. Mas como a Natureza é sábia, devido as fibras existentes nas frutas, a frutose não seria um problema. 

Ainda não existiam as perigosas bebidas industrializadas açucaradas, tampouco os produtos processados e refinados. 

O que muitos desconhecem é que o consumo indiscriminando e contínuo da frutose,  muito além de uma simples caloria, pode se traduzir em um perigo anabólico e parecer provocar grande estrago no corpo, principalmente a resistência à insulina, produção de ácido úrico e desencadeadora de processos inflamatórios.

O xarope de milho com alto teor de frutose é muito mais doce que o açúcar de mesa e a própria glicose. Além disto, é economicamente mais barato. Um verdadeiro achado para a indústria. A frutose cristalina (forma pura de frutose em pó, manipulada industrialmente), um novo produto que está surgindo, possui índice de doçura 173!

O xarope de milho é considerado, hoje, a maior fonte de frutose (alto teor) presente na alimentação das pessoas. É o grande vilão e sobre ele as pessoas devem ser informadas.

O açúcar, em sua composição estrutural original, é o único na natureza composto, simultaneamente, por gordura e carboidrato. No entanto, ele é metabolizado de forma diferente para cada componente.

Em termos bioquímicos, frutose não é glicose. O que o fígado faz com a frutose é algo único.

Sobre o assunto, confira esta excelente palestra do dr. Robert Lustig (aqui).

Cada célula do corpo utiliza glicose como fonte de energia, sendo ela metabolizada em cada órgão do corpo que dela necessite. Somente 20% da glicose é metabolizada e armazenada no fígado. Ou seja, "todos" querem a glicose.

No fígado, este pequeno percentual da glicose seria convertido em glicogênio (para rápida produção de energia) para ser armazenada. O pâncreas libera insulina em resposta à presença da glicose na corrente sanguínea, propiciando a entrada do açúcar no interior das células. 

Assim, quando se come 120 calorias de glicose (o equivalente a duas fatias de pão), menos de uma caloria contribui para resultados metabólicos nocivos.

Agora falemos do metabolismo da frutose.

frutose parece ser integralmente metabolizada no fígado, sendo ele o único organismo com o transporte bioquímico (GLUT5) para ela. Assim, toda a frutose ingerida vai direto para o fígado, criando vários efeitos metabólicos adversos. 

"Ninguém" aceita a frutose, exceto o coitado do fígado. Existe também um bloqueio, uma barreira biológica impedindo a frutose de chegar ao cérebro, tamanho o seu potencial nocivo.

Ela produz ácido úrico, que bloqueia uma enzima que produz o óxido nítrico, regulador da pressão arterial. Níveis elevados de ácido úrico provocam gota.

No processo, também são produzidos piruvatos, citratos e nova lipogênese, cujo produto final são os ácidos graxos livres, além das lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL são as partículas de LDL de colesterol, densas e pequenas) e os triglicerídeos. Como resultado, teríamos a hiperlipidemia ou aumento da gordura no sangue, além da resistência à insulina e formação de gordura no próprio fígado (esteatose).

A grande questão, assim, é o consumo exagerado e desmedido de produtos industrializados que contém xarope de milho com alta concentração de frutose. Seu destino - além do desarranjo hormonal - será ser armazenado como gordura.

Segundo o professor americano Robert H. Lustig, em termos químicos, a frutose é virtualmente metabolizada no fígado da mesma forma que o álcool. Ela é metabolizada em gordura e não diretamente como energia celular, como a glicose, favorecendo o armazenamento de gordura nas células adiposas e provocando um mal funcionamento mitocondrial.

Para ele, a frutose é uma toxina para o fígado. Pelo mesmo motivo que o álcool é. A única diferença é que uma parte do álcool é metabolizada no cérebro e por isto você sente na pele os efeitos (embriaguez, mal estar, dor de cabeça etc.). Já a frutose - felizmente - não é metabolizada no cérebro e por isto as pessoas não sentem os efeitos imediatos. A perigosa acumulação de gordura no fígado é silenciosa e progressiva.

Aliás, o mencionado Endocrinologista é um especialista no assunto e um fervoroso opositor do açúcar, que classifica como "produto tóxico" e que deveria ser rotulado e proibido pelo governo.

Além do mais, a frutose não inibiria o hormônio da fome, a grelina, produzida no estômago. A ingestão de frutose não estimula tanto a produção de insulina, pois não temos um receptor de frutose nas células. Então a leptina não seria produzida e o seu cérebro não se dá conta de que você comeu algo e, logo, você come mais.

Quanto maior a produção de insulina, menos o cérebro entende os sinais de outro hormônio chamado leptina. Consequentemente, continuamos a comer, porque o cérebro pensa que ainda temos fome. 

Desta forma, é fácil intuir que o consumo crônico de frutose muda – de forma negativa - a forma como o cérebro reconhece os sinais dos diferentes níveis de energia. O corpo pensa que falta energia, apesar das células de gorduras estarem gerando sinais que já estão cheias.

Acredito que o excesso de produção da insulina impediria que a leptina exerça seu papel. Então, mais frutose, mais carboidratos gerariam mais resistência à insulina. O circulo vicioso se reinicia e o obriga a comer sempre mais, às vezes compulsivamente.

Neste contexto, parece haver, então, uma completa interferência nos mecanismos de fome e saciedade do corpo, que receberia sinais metabólicos conflitantes, favorecendo a ingestão exagerada de gordura e o consequente ganho de gordura corporal.

A ingestão de grandes quantidades de frutose, especialmente através do consumo do xarope de milho enriquecido, só tem um lugar destino: o fígado. Se os seus níveis de glicogênio hepático estão saturados (o que normalmente ocorre o dia inteiro, porque o "estado alimentado" é contínuo), após isso, a frutose seria transformada em gordura, principalmente a gordura abdominal visceral!

Antes de comprar e consumir um produto industrializado, leia atentamente os rótulos das embalagens. O HFCS está escondido em quase todos os alimentos não naturais ou orgânicos. Não seja inocente e não caia nas armadilhas de marketing que invariavelmente colocam na caixa "orgânico", "100% natural", "low fat" etc.

Sempre que há frutose na natureza, com ela existem muitas fibras. Por isto comer, com moderação, frutas inteiras (e não o suco delas, quando se extrai somente a parte doce - exatamente onde a frutose está) é o menor dos problemas. 

Não há dúvida que a fruta é saudável, fonte natural de fibras e antioxidantes que ajudam a combater radicais-livres. Para o fim específico de emagrecimento, no entanto, por um período de tempo limitado, prefira aquelas frescas, com menos teor de doçura (maçã, banana, uva, melancia, melão, abacaxi) e escolha aquelas que contenha menos frutose (abacate, morango, amora e mirtilo).

Os sucos naturais, concentrados, devido à retirada das fibras da fruta, são digeridos e absorvidos mais rapidamente do que as frutas inteiras, portanto, teriam a condição de estimular mais a insulina, o que não favoreceria o emagrecimento.

Se o suco, ou melhor, a bebida açucarada, for industrializada, tanto pior, porque, além de ser artificialmente mais doce, conterá maior concentração de HFCS.

Até o famoso Gatorade, criado na Universidade da Flórida, também contém xarope de frutose, adicionado estrategicamente para a bebida ficar gostosa. Se você não for um atleta profissional, cujo metabolismo é muito acelerado, provavelmente terá problemas com esta famosa bebida isotônica. 

É fato que - se o objetivo é a perda de peso - a ingestão de muita frutose em sua dieta pode ser uma das razões que impede o emagrecimento, já que, como visto, o que seu organismo faz com a frutose é particularmente perigoso.

A ingestão imoderada e crônica de frutose, principalmente através do HFCS, pode estar relacionada a diversos danos à nossa saúde, como acumulação de doença no fígado (esteatose hepática não alcoólica), inflamação, hipertensão, resistência à insulina no fígado, hiperinsulimia, obesidade e Síndrome Metabólica.

Por isto, os pais devem se conscientizar e dedicar especial atenção com a alimentação de seus filhos. É preciso orientá-los e educá-los para evitar o consumo exacerbado de frutose, especialmente naqueles "alimentos" processados e industrializados, repletos de HFCS (refrigerantes, biscoitos recheados e afins). 

Devem alertá-los que se continuarem com este estilo alimentar errado o corpo, agora ou daqui a uma ou duas décadas,  poderá cobrar um preço, às vezes muito alto e até irreversível (como a Diabates tipo 2).

Por fim, é sempre recomendável que você consulte previamente profissionais de Saúde da sua confiança, como médico e nutricionista, a fim de que eles possam te examinar pessoalmente, solicitar exames laboratoriais e auxiliar na escolha das melhores decisões alimentares.

Não se esqueça: informação é poder e saúde !

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