sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Desevoluímos?



Há 2,5 milhões de anos, desde o surgimento do Hominídeo, o homem primata, nômade por natureza, durante o processo natural de seleção das espécies, foi geneticamente adaptado para comer plantas e bichos. 

Naquele ambiente selvagem e inóspito, a comida era escassa. A comida era obtida somente se o homem das cavernas, em constante jejum forçado, conseguisse abater um animal ou colher alguma planta, raiz ou frutas silvestres da estação. Doce, só havia o mel, quando ele se animava a enfrentar uma colmeia.

Éramos, portanto, nos primórdios da civilização, caçadores e coletores.

Somente há 10 mil anos, na Era da Agricultura, que o ser humano começou a domesticar os animais e a cultivar plantações (daí surgiram os grãos). Tal fato propiciou o estabelecimento das primeiras aldeias e vilas, poupando o ato de perambular pela terra a procura de alimento, que, então, já não era tão difícil.

Por fim, com a Revolução Industrial, 250 anos atrás, a humanidade conheceu o processamento e refinamento da farinha, bem como o surgimento do açúcar, ambos os ingredientes, dominantes e soberanos em qualquer tipo de alimentação moderna.

O homem paleolítico, fisiologicamente magro e saudável, apesar da pouca expectativa de vida (não havia hospitais ou qualquer recurso médico), não morria por doenças crônicas, mas sim devorado por algum animal selvagem, por infecção ou vítima de acidente pessoal.

Em termos de alimentação, indaga-se: a espécie humana evoluiu ao longo de sua história?

Penso que não. Desevoluímos nutricionalmente, acredito. Tanto que atualmente vivemos uma pandemia de obesidade e diabetes no planeta. O produto alimentício preparado, empacotado e pronto para o consumo reina soberano em uma sociedade apressada e estressada.

O secular ato de cozinhar em família foi relegado ao segundo plano. Não temos tempo. A vida corre. O mundo cobra. As pessoas, no modo automático, apenas sobrevivem nesta selva de pedra.

Segundo dados da OMS, atualmente a primeira causa mundial de óbito é o ataque cardíaco. A diabetes já ocupa o sexto lugar.

No mundo moderno, a comida é abundante, farta e de fácil acesso. Vivemos sob a égide do fast food. Quanto mais rápido, melhor. Os produtos ultraprocessados, capazes de viajar o planeta e permanecer nas prateleiras centrais dos supermercados intactos, por meses, sem estragar, caíram na preferência da população.

Todos comem, em qualquer lugar, a cada três horas. Muitos sob “orientação especializada”. O estado alimentado é mantido desde a alvorada até o apagar das luzes.

O corpo não descansa. Trabalho incessantemente. Sem trégua, o pâncreas, fazendo turno de 24 horas de trabalho por dia, secreta cada vez mais insulina, o hormônio que atua na regulação do ativo tecido adiposo e responsável pelo acúmulo de gordura. A glicose acumula-se no sangue. O fígado, cada vez mais gorduroso.

O hiperinsulinismo escancara as portas para o surgimento da Síndrome Metabólica e Resistência à Insulina. Campo fértil para florescer as doenças crônico-degenerativas. Com a gordura corporal (e visceral) sobrando, são produzidas toxinas que inflamam o já debilitado corpo.

Assim como o coração (danificado pela aterosclerose, iniciada por um processo inflamatório do endotélio), o cérebro padece e adoece ante a enxurrada de carboidratos processados, refinados e açúcar em excesso na dieta ocidental.

Neste cenário, as doenças ocidentais, muitas delas incrementadas por um estilo de vida desregrado e uma alimentação incorreta, preocupam. Além de ser uma questão de saúde pública, encarece o Estado, incapaz de financiar os tratamentos de saúde nos hospitais públicos. Milhões de pessoas são afetadas.

Com a condição clínica debilitada, a vida diária sofre limitações. Mais medicamentos são prescritos. Seus efeitos colaterais castigam. O risco para outras enfermidades é incrementado. A depressão, infelizmente, é uma realidade. Doenças autoimunes, antes raras, agora são comuns. É o corpo, cansado, nutricionalmente descontrolado, estressado, hormonalmente desbalanceado, se auto agredindo. 

Assim caminha a Humanidade. Até quando?

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