Por
que devemos priorizar a ingestão de alimentos naturais?
Novamente,
o Guia Alimentar para a população brasileira vem a nosso socorro e
responde, com bastante propriedade, a acima indagação formulada.
A
comida de verdade é saudável, densamente nutritiva e saciante.
Composta por ingredientes naturais, ela não prejudica o nosso
delicado equilíbrio hormonal, não sendo capaz de estimular a
secreção de quantidades nocivas de insulina pelo pâncreas. Uma
dieta balanceada reclama, na base do consumo, verduras e legumes,
permeada com carnes (de todas as espécies), ovos, castanhas, frutas
etc.
No
entanto, de forma bastante didática, o Guia aponta, ainda, razões
biológicas, culturais, sociais e ambientais para que a população
credencie os alimentos in
natura
(ou minimamente processados) como prioridade alimentar sustentável.
Confira:
" Alimentos
in
natura ou
minimamente processados
Faça
de alimentos in
natura ou
minimamente processados a base de sua alimentação Alimentos in
natura ou
minimamente processados, em grande variedade e predominantemente de
origem vegetal, são a base para uma alimentação nutricionalmente
balanceada, saborosa, culturalmente apropriada e promotora de um
sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentável.
Como
vimos, alimentos in
natura são
obtidos diretamente de plantas ou de animais e são adquiridos para o
consumo sem que tenham sofrido qualquer alteração após deixarem a
natureza.
A
aquisição de alimentos in
natura é
limitada a algumas variedades como frutas, legumes, verduras, raízes,
tubérculos e ovos. E, ainda assim, é comum que mesmo esses
alimentos sofram alguma alteração antes de serem adquiridos, como
limpeza, remoção de partes não comestíveis e refrigeração.
Outros alimentos como arroz, feijão, leite e carne são comumente
adquiridos após secagem, embalagem, pasteurização, resfriamento ou
congelamento.
Outros
grãos como os de milho e trigo e raízes como a mandioca costumam
ainda ser moídos e consumidos na forma de farinhas ou de massas
feitas de farinhas e água, como o macarrão. O leite pode ser
fermentado e consumido na forma de iogurtes e coalhadas.
Limpeza,
remoção de partes não comestíveis, secagem, embalagem,
pasteurização, resfriamento, congelamento, moagem e fermentação
são exemplos de processos mínimos que transformam alimentos in
natura em
minimamente processados. Note-se que, como em todo processamento
mínimo, não há agregação de sal, açúcar, óleos, gorduras ou
outras substâncias ao alimento.
Alimentos
in
natura tendem
a se deteriorar muito rapidamente e esta é a principal razão para
que sejam minimamente processados antes de sua aquisição. Processos
mínimos aumentam a duração dos alimentos in
natura,
preservando-os e tornando-os apropriados para armazenamento. E podem
também abreviar as etapas da preparação (limpeza e remoção de
partes não comestíveis) ou facilitar a sua digestão ou torná-los
mais agradáveis ao paladar (moagem, fermentação).
Em
algumas situações, técnicas de processamento mínimo, como o
polimento excessivo de grãos, podem diminuir o conteúdo de
nutrientes dos alimentos e, nesses casos, deve-se preferir o alimento
menos processado (como a farinha de trigo menos refinada e o arroz
integral). Entretanto, na grande maioria das vezes, os benefícios do
processamento mínimo superam eventuais desvantagens.
O
quadro a seguir define a categoria de alimentos in
natura ou
minimamente processados e oferece uma lista detalhada de exemplos.
Na
sequência, são apresentadas as justificativas que amparam a
recomendação deste guia de fazer deles a base da alimentação.
Por
que basear a alimentação em uma grande variedade de alimentos in
natura ou
minimamente processados e de origem predominantemente vegetal?
Razões
biológicas e culturais
Alimentos
in
natura ou
minimamente processados variam amplamente quanto à quantidade de
energia ou calorias por grama (densidade de energia ou calórica) e
quanto à quantidade de nutrientes por caloria (teor de nutrientes).
Alimentos
de origem animal são boas fontes de proteínas e da maioria das
vitaminas e minerais de que necessitamos, mas não contêm fibra e
podem apresentar elevada quantidade de calorias por grama e teor
excessivo de gorduras não saudáveis (chamadas gorduras saturadas),
características que podem favorecer o risco de obesidade, de doenças
do coração e de outras doenças crônicas.
Por
sua vez, alimentos de origem vegetal costumam ser boas fontes de
fibras e de vários nutrientes e geralmente têm menos calorias por
grama do que os de origem animal.
Mas,
individualmente, tendem a não fornecer, na proporção adequada,
todos os nutrientes de que necessitamos.
De
fato, com exceção do leite materno nos primeiros seis meses de
vida, nenhum alimento sozinho proporciona aos seres humanos o teor de
nutrientes que seu organismo requer. Isso explica a razão de a
espécie humana ter evoluído de modo a se tornar apta a consumir
grande variedade de alimentos.
Também
explica porque diversas sociedades e sistemas alimentares
tradicionais se estabeleceram combinando alimentos de origem vegetal
com perfis de nutrientes que se complementam e consumindo pequenas
quantidades de alimentos de origem animal.
Exemplos
de combinações de alimentos de origem vegetal que se complementam
do ponto de vista nutricional são encontrados na mistura de cereais
com leguminosas (comum na culinária mexicana e presente no nosso
arroz com feijão), de cereais com legumes e verduras (comum na
culinária de países asiáticos e presente no arroz com jambu do
Pará), de tubérculos com leguminosas (comum em países africanos e
presente no nosso tutu com feijão) e de cereais ou tubérculos com
frutas (comum em várias culinárias e presente no arroz com pequi de
Goiás e na farinha de mandioca com açaí da Amazônia).
Em
muitas das culinárias tradicionais, carnes, peixes e ovos são
consumidos como parte de preparações culinárias que têm como base
alimentos oriundos de plantas. A adição de alimentos de origem
animal acrescenta sabor à comida, realça o sabor de cereais,
feijões, legumes, verduras e tubérculos e melhora a composição
nutricional da preparação final.
Papel
semelhante tem a adição às preparações de alimentos de sabor
intenso como alho, cebola, pimentas, manjericão e coentro.
Com
a complementação de pequenas quantidades de alimentos de origem
animal, combinações de alimentos de origem vegetal – vários
tipos de grãos, raízes, tubérculos, farinhas, legumes, verduras,
frutas e castanhas – constituem base excelente para uma alimentação
nutricionalmente balanceada, saborosa e culturalmente apropriada.
Razões
sociais e ambientais
A
opção por vários tipos de alimentos de origem vegetal e pelo
limitado consumo de alimentos de origem animal implica indiretamente
a opção por um sistema alimentar socialmente mais justo e menos
estressante para o ambiente físico, para os animais e para a
biodiversidade em geral.
O
consumo de arroz, feijão, milho, mandioca, batata e vários tipos de
legumes, verduras e frutas tem como consequência natural o estímulo
da agricultura familiar e da economia local, favorecendo assim formas
solidárias de viver e produzir e contribuindo para promover a
biodiversidade e para reduzir o impacto ambiental da produção e
distribuição dos alimentos.
A
diminuição da demanda por alimentos de origem animal reduz
notavelmente as emissões de gases de efeito estufa (responsáveis
pelo aquecimento do planeta), o desmatamento decorrente da criação
de novas áreas de pastagens e o uso intenso de água.
O
menor consumo de alimentos de origem animal diminui ainda a
necessidade de sistemas intensivos de produção animal, que são
particularmente nocivos ao meio ambiente. Típica desses sistemas é
a aglomeração de animais, que, além de estressá-los, aumenta a
produção de dejetos por área e a necessidade do uso contínuo de
antibióticos, resultando em poluição do solo e aumento do risco de
contaminação de águas subterrâneas e dos rios, lagos e açudes da
região.
Sistemas
intensivos de produção animal consomem grandes quantidades de
rações fabricadas com ingredientes fornecidos por monoculturas de
soja e de milho. Essas monoculturas, por sua vez, dependem de
agrotóxicos e do uso intenso de fertilizantes químicos, condições
que acarretam riscos ao meio ambiente, seja por contaminação das
fontes de água, seja pela degradação da qualidade do solo e
aumento da resistência de pragas, seja ainda pelo comprometimento da
biodiversidade. O uso intenso de água e o emprego de sementes
geneticamente modificadas (transgênicas), comuns às monoculturas de
soja e de milho, mas não restritos a elas, são igualmente motivo de
preocupações ambientais.
Alimentos
de origem vegetal ou animal oriundos de sistemas que promovem o uso
sustentável dos recursos naturais, que produzem alimentos livres de
contaminantes, que protegem a biodiversidade, que contribuem para a
desconcentração das terras produtivas e para a criação de
trabalho e que, ao mesmo tempo, respeitam e aperfeiçoam saberes e
formas de produção tradicionais são chamados de alimentos
orgânicos e de base agroecológica.
Quanto
mais pessoas buscarem por alimentos orgânicos e de base
agroecológica, maior será o apoio que os produtores da agroecologia
familiar receberão e mais próximos estaremos de um sistema
alimentar socialmente e ambientalmente sustentável.
Embora
uma alimentação nutricionalmente balanceada possa conter apenas
alimentos in
natura ou
minimamente processados, grãos, raízes e tubérculos, farinhas,
legumes e verduras, carnes e pescados são habitualmente consumidos
na forma de preparações culinárias salgadas ou doces feitas com
óleos, gorduras, sal ou açúcar.
Esses
produtos são utilizados nas cozinhas das casas das pessoas ou nas
cozinhas de restaurantes para temperar, misturar e cozinhar alimentos
in
natura ou
minimamente processados e para com eles criar preparações
culinárias agradáveis ao paladar. "
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