domingo, 19 de fevereiro de 2017

A evolução alimentar do ser humano


Nossos ancestrais paleolíticos, dos quais possuímos a mesma estrutura genética, ficariam estarrecidos se soubessem como a Humanidade caminhou nestes últimos 10 mil anos.

Os parentes antigos certamente não entenderiam que possuímos comida em abundância e que não precisamos lutar, correr ou enfrentar animais selvagens para nos alimentarmos.

Basta ir ao supermercado na próxima esquina e encher o carrinho para satisfazer nossas necessidades alimentares básicas.

Mas em algum ponto da História, mudamos o rumo de nossa evolução. Nossos genes permanecem programados biologicamente para estocar o maior número de calorias. Ele precisa de energia. Afinal, ao longo das gerações, obter comida não era tão fácil. 

Após a Era da Agricultura, é fato, o ser humano alterou seu estilo de vida. Para pior, ao menos, em termos alimentares.

A industrialização da alimentação contribuiu decisivamente para este processo. Se antes tínhamos na natureza comida que era proveniente dos animais ou da terra, hoje as pessoas preferem "produtos industriais", junk food e alimentos altamente adocicados. 

A partir daí surgiram as doenças crônicas, a epidemia de obesidade e diabetes. A Medicina tradicional pouco avançou na área nutricional. Hoje vemos a enorme dificuldade dos médicos diagnosticarem as enfermidades modernas (preferem cuidar, pela via medicamentosa, apenas dos sintomas e não combater as causas), iniciadas por processos inflamatórios, muitos deles de origem alimentar. Enfim, por onde olhamos, as pessoas estão mais gordas e doentes. 

Mesmo com o aumento da expectativa média de vida, o saldo final não é dos melhores, já que viver muito sem qualidade de vida pode não ser a melhor opção.

Ansiamos morrer jovens, com energia, saúde e disposição, o mais velho possível.

Dentre outros fatores biológicos, é por isto que o corpo trabalha ao máximo para engordar e acumular reservas de combustível a ter que se esforçar para ficar magro, construir e manter músculos.

Nosso corpo, durante o processo evolutivo, aprendeu a transformar o combustível dos alimentos em energia para nossa sobrevivência. A glicose - fonte primária de energia - era escassa e por isso nosso organismo consegue fabricá-la a partir de gorduras e proteínas. Mas este processo é muito complexo e dispendioso para a máquina humana. Muito mais fácil e rápido é transformar amido e açúcar (carboidratos simples) em glicose.

Para isto, é fundamental o papel da insulina, um hormônio que possibilita a entrada da glicose da corrente sanguínea para cada célula (especialmente muscular, adiposa e hepática), para que ela possa utilizá-la como combustível indispensável. 

Nosso ancestral da Idade das Cavernas - saudáveis - possuíam alta sensibilidade à insulina, devido a pouquíssima exposição aos carboidratos e comidas adocicadas, extremamente raras. Ou seja, precisavam de pouca insulina para fazer com que toda a glicose penetrasse nas células e cumprisse seu papel.

No entanto, o homem moderno, em razão do consumo exagerado e diário de carboidratos ruins e engordantes (especialmente farinha de trigo e açúcar), desenvolveu a nociva resistência à insulina, a porta de entrada e a origem de uma série de enfermidades, como a Síndrome Metabólica, diabetes etc. 

É preciso que o pâncreas produza uma enormidade de insulina para dar conta da imensa quantidade de glicose ingerida na alimentação, diariamente e por várias décadas (na verdade, por toda a vida).

Por isto, ocorre um processo denominado downregulation (regulação para baixo - o que é ruim), através do qual nossas células se adaptam reduzindo em sua própria superfície o número de receptores reagentes à insulina. Esta forma de dessensibilização faz com que a insulina ignore a glicose e não a absorva do sangue. Neste processo cíclico e vicioso, o pâncreas é obrigado e dobrar o trabalho para bombear mais insulina para permitir o acesso da glicose no interior das células.

Até que ... dependendo da genética, do tipo biológico e de cada indivíduo - mais cedo ou mais tarde, este sistema metabólico entrará em colapso. A máquina irá pifar. A desregulação hormonal fará com que cada vez mais se acumule na corrente sanguínea a glicose, que se torna, neste número, altamente tóxica. 

Este açúcar sobrando em nosso sangue provoca inúmeros danos, inicia os processos inflamatórios, causa infecções e faz surgir as doenças degenerativas. Para se ter uma ideia da gravidade e importância do assunto, segundo estudos recentes, o diabético tem o dobro de chance de desenvolver Alzheimer.

E assim caminha a humanidade ...

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