terça-feira, 1 de agosto de 2017

Exame de glicose é insuficiente


Imagine uma situação: uma criança com sobrepeso. A mãe, preocupada, leva a filha ao médico. Após o exame clínico de rotina, o profissional solicita os exames laboratoriais comuns, dentre eles, o de glicose. A menina, em jejum, tira a amostra de sangue no laboratório e, dias após, retorna ao seu pediatra. Ao ver os números, o médico diz que está tudo certo e libera a paciente, recomendando o tradicional: siga a dieta da tradicional pirâmide alimentar, evite gorduras, pratique mais exercícios, cuidado para gastar mais do que come, priorize carboidratos “integrais”, iogurte light, queijo branco e “leite” de caixinha.
Pois bem. Este cenário imaginário, mas que ocorre cotidianamente nos consultórios do país, até parece o jogo dos sete erros. Mas não é. O detalhe que quero chamar a atenção é o exame isolado da glicose.

A glicemia “normal”, sozinha, não quer dizer muita coisa e definitivamente não garante que a pequena paciente esteja saudável. Pode-se estar perdendo uma grande oportunidade de prevenir o surgimento de graves enfermidades no futuro. 

Explico.

Sabemos que quando ingerimos carboidratos/açúcar, especialmente os refinados, o pâncreas começa a secretar a insulina com o objetivo principal de remover o açúcar do sangue.

Assim, o poderoso hormônio se encarregará de levar o açúcar para as células que necessitam de combustível/energia. O excesso será armazenado como gordura corporal e lacrado nos adipócitos.

O detalhe, muitas vezes desapercebido, é que os níveis séricos de glicose sanguínea podem estar “normal” às custas de muita insulina produzida pelo órgão pancreático. 

Ou seja, o pâncreas pode estar trabalhando sobrecarregado, 24 horas por dia, para dar conta de tanto carboidrato e açúcar (pães, bolos, biscoitos, Sucrilhos, bebidas achocolatadas, refrigerantes, pizza, sorvete etc.) que tradicionalmente faz parte da dieta das pessoas, especialmente das crianças.

Esta situação é potencialmente perigosa. Como diz o ditado, “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Guardadas as individualidades biológicas e genéticas de cada um, o fato é que com o tempo o pâncreas poderá entrar em colapso e não conseguirá secretar a quantidade enorme de insulina que seria suficiente para metabolizar aquele açúcar inutilizado no sangue. 

O caminho estará aberto para o surgimento de uma condição denominada “resistência à insulina”.

Em outras palavras, os receptores das células do organismo daquela criança ficarão resistentes aos efeitos da insulina e precisarão de cada vez mais quantidades para eliminar o açúcar disponível no sangue. 

hiperinsulinemia, ou seja, níveis cronicamente elevados de insulina no sangue, favorece o surgimento dos processos inflamatórios e oxidação, constituindo-se no estágio anterior ao surgimento da diabetes tipo 2.

Quero dizer que enxergar só o exame glicose é muito pobre e precário para um diagnóstico seguro. Além do mais, quando a glicose está constantemente alta já se perdeu a chance de prevenir e controlar esta desordem.

Seria muito mais interessante solicitar, também, o exame da própria insulina (em jejum) pela manhã. Como a pessoa passou a noite toda dormindo, os saudáveis devem, necessariamente, apresentar um nível baixo de insulina ao acordar, já que nenhum carboidrato entrou pela boca durante a madrugada e o pâncreas deveria estar tranquilo.

É que, logo no início do dia, a insulina, em termos metabólicos, não pode estar elevada, caso contrário, estaremos diante de um indício muito grande de que o pâncreas já enfrenta alguma dificuldade, poderá estar em processo de falência e criando condições para a resistência insulínica.

Portanto, me parece ser fundamental a solicitação de exames mais detalhados, no caso, além da glicose, também a insulina em jejum, até porque o pâncreas é o órgão gerenciador da glicose.

Outro exame interessante é a “hemoglobina glicada”, que revela a média dos níveis de açúcar no sangue nos últimos 90 dias.

De toda forma, se os níveis de insulina e glicose estiverem normais, ao acordar, aí sim, poderíamos concluir que os exames da garotinha do exemplo acima, ao menos no que se refere aos níveis de açúcar no sangue, estaria em ordem, afastando a possibilidade de resistência à insulina, síndrome metabólica e diabetes tipo 2.

Entendemos agora porque ver somente o exame de glicose é insuficiente para um diagnóstico saudável. Pode não estar tudo bem. Se a insulina estiver elevada, será necessário investigar e tratar as causas daquela desordem hormonal, especialmente incluindo uma recomendação de uma reeducação alimentar.

O exame de insulina em jejum é imprescindível e, isoladamente, se traduz em uma das melhores formas de dizer, com fidedignidade, a longevidade de uma pessoa, além de ser o principal indicador de diabetes.

Fica claro que as consequências de um simples exame não solicitado (insulina), bem como do diagnóstico precipitado (glicose isolada "normal), pode contribuir para o surgimento da obesidade, síndrome metabólica, enfim, dar início a um processo inflamatório, provocado pela hiperinsulinemia crônica, que poderá culminar com o surgimento das graves doenças crônico-degenerativas, tais como o diabetes tipo 2.

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