domingo, 27 de novembro de 2016

Fome incontrolável


FOME X SACIEDADE

Em seguida a uma refeição rica em carboidratos, a glicose absorvida pelo sangue estimula o aumento da secreção de insulina. A insulina provoca a captação, o armazenamento e o uso rápido da glicose por quase todos os tecidos corporais, especialmente pelos músculos, tecido adiposo e o fígado. Além disto, o hormônio inibe a utilização de ácidos graxos e estimula sua deposição no tecido adiposo.

Será que podemos controlar (ou minimizar) a fome ?

Quando não há carboidratos disponíveis na dieta a secreção de insulina diminui. A ausência de insulina ativa a enzima lípase sensível a hormônios, ocasionando a mobilização rápida dos ácidos graxos e sua metabolização, favorecendo o emagrecimento. Ou seja, você estará queimando a gordura que estava armazenada.

Quando a quantidade de glicose que chega às células hepáticas é maior do que a que pode ser armazenada como glicogênio, a insulina promove a conversão de todo esse excesso de glicose em ácidos graxos. Esses ácidos graxos são em seguida embalados como triglicerídeos nas lipoproteínas de densidade muito baixa, transportados até o tecido adiposo e lá depositados como gordura. Por ali ficarão "trancados", até que os níveis de açúcar no sangue abaixem, reduzindo também a quantidade de insulina.

Como já dissemos, o que é transformado em gordura corporal (triglicerídeos) é o carboidrato (açúcar) da dieta e não a gordura que comemos. 

Isto porque quando há muita glicose no sangue o pâncreas precisa produzir um nível alto de insulina. Assim quanto maior o nível de glicose sanguínea mais o pâncreas trabalha para produzir a insulina necessária. 

O corpo humano reage ao aumento da produção de insulina com a diminuição do número de seus receptores. Isso poderá provocar um caso de indesejável resistência à insulina, caracterizada por níveis constantemente altos de insulina no sangue.


Porém, há um ponto em que o pâncreas não consegue mais aumentar a quantidade de insulina produzida. Ocorre uma lesão nas células beta e o número de insulina decresce. Assim a pessoa ficará em um quadro de baixa insulina e alta glicose sanguínea, abrindo caminho para o surgimento da temida Diabetes tipo 2. 

O glucagon, por sua vez, é o hormônio liberado quando a glicemia está baixa. Seu efeito mais importante é justamente de aumentar a concentração sanguínea de glicose pela decomposição do glicogênio hepático e aumento da gliconeogênese. Ele ativa a enzima fosforilase, que fraciona as moléculas de glicogênio do fígado em moléculas de glicose, que passam para o sangue, elevando a glicemia. Este processo favorece o emagrecimento, já que o corpo utilizará a gordura armazenada como combustível.

A regulação integrada do metabolismo tem o objetivo de adaptar o organismo a situações diferentes, como respostas metabólicas em função da abundância ou escassez de nutrientes.

Portanto, enquanto a insulina tem sua atuação voltada para a absorção de glicose pelas células do fígado, músculos esqueléticos e tecido adiposo, diminuindo sua concentração em razão da retirada de glicose do sangue, o glucagon, com atividade estimulante oposta, faz aumentar o teor de glicose na corrente sanguínea a partir da quebra do glicogênio (substância de reserva energética).

Desta forma, conforme a necessidade do organismo, o pâncreas é requisitado a secretar insulina ou glucagon, dependendo da atividade metabólica a ser desenvolvida, utilizando energia das ligações químicas liberadas pelo catabolismo da glicose durante a respiração celular ou processo de fermentação lática.

No entanto, mesmo estando há 12 horas em jejum, muitas pessoas apresentam a glicemia alta, devido ao fígado secretar glicose quando não estamos ingerindo esta substância.

A hipoglicemia reativa ocorre quando, após o consumo de um alimento de alto índice glicêmico (carboidratos refinados e açúcar), a elevação súbita da glicemia leva a uma produção exagerada de insulina, que por sua vez leva a uma correção excessiva da glicemia para níveis abaixo do normal. Este fenômeno é mais comum em pessoas portadoras de resistência à insulina (hiperinsulinemia crônica).

Agora você já sabe que quando aparece aquela "fome louca", quase incontrolável, significa que ela foi provocada pela rápida queda da glicemia em resposta à excessiva ingestão de açúcar/glicose. Trata-se de uma verdadeira montanha russa hormonal - e de energia - com episódios sucessivos de hiperglicemia seguidos de hipoglicemia.

Afinal de contas, nos foi dito que precisamos comer a cada três horas !

Por isto, o excesso de carboidratos engordantes na dieta tem o potencial de provocar alterações constantes (picos) de energia ao longo do dia, especialmente por causa da desregulação dos hormônios encarregados de regular o nosso delicado sistema de fome e saciedade: grelina e leptina.

A grelina é um hormônio produzido pelo estômago. Quando está vazio, ele age no cérebro e dispara a sensação de fome. Na medida que a pessoa ingere o alimento ele vai diminuindo sua concentração.

Assim, uma das funções da grelina é estimular o apetite. Em casos de jejum prolongado e hipoglicemia a sua concentração no sangue aumenta. Porém, após a alimentação, sua concentração diminui. A concentração de grelina no sangue tem mais relação com os nutrientes contidos nos alimentos e não com a quantidade ingerida. Sua concentração é menor depois de refeições ricas em carboidratos (que liberam mais insulina) e maior depois de refeições ricas em lipídios (que liberam pouca insulina).

A seu turno, a leptina tem uma ação conjunta muito forte com a insulina. Ela age no hipotálamo, promovendo sensação de saciedade e regulando o balanço energético. A insulina aumenta a captação de glicose promovendo uma queda da glicemia sanguínea, o que serve de estímulo para o apetite. Apesar de ser uma reação normal, a questão é a rapidez em que essa captação da glicose acontece.

A leptina é um dos principais hormônios e possui decisiva influência sobre os demais,além de controlar praticamente todas as funções do hipotálamo. Trata-se de uma verdadeira e primitiva ferramenta de sobrevivência. Relaciona-se na coordenação das respostas metabólicas, hormonal e comportamento à fome. Ela, em sua, controla a tireoide e, assim, o metabolismo dos mamíferos. Organiza nossas reações inflamatórias. Além de supervisionar as reservas de energia, decide se ficaremos com fome, queimaremos ou acumularemos gordura.

Conforme nos lembra o Dr. David Perlmutter, em seu livro "A Dieta da Mente", tanto a leptina como a insulina, embora tendam a ser antagônicas, sofrem influência negativa das mesmas coisas, e os maiores transgressores são os carboidratos. Quanto mais refinados e processados, mais desregula os níveis ideais dos referidos hormônios. Quando os hormônios do apetite ficam desregulados, o cérebro basicamente se desconecta do estômago.

Assim como pode surgir a resistência à insulina, quando a leptina permanece cronicamente elevada, especialmente pelo consumo de carboidratos industrializados, seus receptores começam a ser desativados e você se torna resistente à ela, abrindo a porta para o aparecimento de doenças e desfunções. Por consequência, o mecanismo que sinaliza ao cérebro a satisfação não funciona e, assim, o sentimento de saciedade é comprometido. Mesmo satisfeito, você não irá parar de comer, aumentando o risco de obesidade.

Quando os alimentos passam do estômago para os intestinos há a liberação de substâncias próprias/hormônios que também age no cérebro, ativando o centro da saciedade, diminuindo a fome. Assim, o segredo da alimentação no controle do peso e na prevenção da obesidade está em utilizar esses conhecimentos, sabendo que os carboidratos simples (e produtos industrializados/processados), como o pão, o arroz, a batata e os doces, são absorvidos rapidamente, antes que os intestinos liberem o hormônio inibidor da fome.



Portanto, quanto mais carboidratos ruins e açúcar (alimentos sabidamente viciantes) ingerirmos, mais fome teremos, no menor espaço de tempo. São alimentos viciantes. Minuciosamente estudados e desenvolvidos pela indústria alimentícia.

Muitas vezes, sabemos, a fome é incontrolável. Devido a falha no sistema de compensação do cérebro, acabamos por comer muito e mal. Especialmente se estiver em nossa frente a fatal combinação (inexistente na natureza) de açúcar + gordura (sorvetes, pizza etc.).

Uma das melhores sensações após a "reabilitação" e reeducação alimentares é exatamente o controle sobre a fome. Desintoxicados do consumo crônico de farinha de trigo refinada (glúten), dos grãos e do açúcar, não haverá a menor necessidade de nos mantermos alimentados a cada três horas. Com o tempo, os hormônios voltarão ao desejável equilíbrio.

A comida de verdade é composta por alimentos densamente nutritivos e altamente saciantes. Poucas e boas refeições serão suficientes para nutrir o organismo com o que há de melhor em termos nutricionais. O corpo humano, em suas diversas funções bioquímicas, busca o platô (estabilidade) e não os picos (desequilíbrios).

Como consequência, não haverá mais os picos de açúcar no sangue, o que acaba por normalizar e estabilizar os nossos níveis de energia e humor ao longo do dia. Ficaremos mais animados, dispostos e atentos para realizarmos nossas atividades diárias.


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