terça-feira, 25 de abril de 2017

A verdade sobre a indústria alimentícia


Neste revelador livro, intitulado "Sal, Açúcar, Gordura", da editora Intrínseca, o autor Michael Moss, vencedor do Pulitzer, faz revelações assustadoras a respeito dos bastidores da indústria alimentícia, o que as maiores empresas de alimentos do mundo fazem para atrair e "fidelizar" cada vez mais consumidores e o que o seus produtos alimentícios têm que fazem você sempre querer mais.


Na verdade, estou me referindo, com outras palavras, a compulsão alimentar, ao vício e a possível dependência gerada por alimentos feitos pela indústria, repletos de sal, açúcar e gordura hidrogenada.

O livro aborda questões ainda pouco debatidas na mídia em geral. Diz que os "grandes dogmas" da indústria são o sabor, a conveniência e o custo. Sua principal preocupação é com o modelo de negócio que leva as empresas a gastarem o mínimo possível na fabricação de alimentos processados. Ou seja, eles sempre estão buscando a forma mais barata de produção.

Os profissionais que gerenciam a indústria alimentícia sabem muito do frágil controle corporal sobre a alimentação exagerada, bem como o potencial oculto de alguns alimentos processados de fazer os consumidores sentirem ainda mais fome. Ou seja, o objetivo seria a criação e a comercialização de produtos cujo objetivo é maximizar seu poder de atração sobre o consumidor.

A questão alimentar perpassa por temas preocupantes e de saúde pública, como a a epidemia de obesidade infantil, o sedentarismo, a fabricação de gordura trans, o sobrepeso de grande parte de população, o fato da comida ter se tornado um produto industrial e o surgimento de doenças ligadas ao estilo de vida inadequado.



É fato que a maioria das pessoas não possuem o conhecimento nutricional satisfatório para evitar dietas baseadas nos alimentos oriundos da indústria.

Ainda de acordo com o livro, o processamento e o refino retiram o valor nutricional do alimento industrializado. Os grãos são reduzidos a amido puro. Há muito açúcar concentrado, sob diversas nomenclaturas, em praticamente tudo. A gordura também é modificada no processamento, hidrogenada, criando sub-produtos maléficos para a saúde humana.

Um dos problemas consiste, ainda, na oferta massiva de alimentos baratos, saborosos, de porções exageradas e ricos em energia. Estão presentes nas grandes redes de fast food.

É inegável o poder de alguns alimentos para criar compulsão e frustrar qualquer estratégia nutricional saudável.

O marketing e a propaganda alimentícia direcionada para as crianças também assume um papel relevante nesta discussão sobre a indústria mundial de alimentos. Os pequenos querem bebidas e alimentos saborosos, de preferência açucarados, e não nutritivos.


O que está por trás das fórmulas destes alimentos? Quais os ingredientes utilizados na fabricação da comida processada? As quantidades de sal, açúcar e gordura utilizadas são recomendáveis para o consumo humano? Há algum tipo de combinação estratégica de ingredientes para gerar compulsão alimentar ?



São questionamentos que as pessoas normalmente não fazem. Não há uma visão crítica acerca do processo de fabricação e a própria segurança dos alimentos. A indústria sabe disto.

É muito mais fácil culpar o paciente, acusando-o de sedentário e guloso, a ter que informar a população sobre as diversas questões nutricionais.

A indústria é sofisticada, moderna e possui os melhores cientistas para aprimorar seus produtos. As estratégias são inúmeras. Fazem a distribuição e o formato das gotículas de gordura para manipular sua taxa de absorção (sensação bucal). Alteram o formato físico do sal, pulverizando-o num pó fino que alcança papilas gustativas mais depressa e com mais intensidade, aumentando a "explosão de sabor". O componente mais doce do açúcar - a frutose - foi cristalizado num aditivo que torna os alimentos mais convidativos. Os cientistas também criaram realçadores que tornam o açúcar duzentas vezes mais doce do que em seu estado natural.

A indústria busca sempre aumentar o poder de atração de seus produtos. Chegam até a utilizarem imagens cerebrais para estudar como nossos neurônios reagem a determinados alimentos, especialmente o açúcar.

Descobriram que o cérebro é ativado na presença do açúcar da mesma forma que ocorre com a cocaína.

Tudo com o principal propósito: nenhum aperfeiçoamento do perfil nutricional do produto pode reduzir sua atratividade. Este dogma é o responsável por uma das estratégias mais desonestas do setor: reduzir um ingrediente prejudicial como a gordura e, ao mesmo tempo e por baixo dos panos, acrescentar mais açúcar para manter as pessoas fissuradas.

O sal, açúcar e a gordura são apenas parte do projeto da indústria para moldar os hábitos alimentares das pessoas. 

O açúcar não apenas adoça, mas substitui ingredientes caros para dar voluma e textura. Por um custo adicional pequeno, diversas gorduras podem ser adicionadas às fórmulas dos alimentos com o objetivo de estimular o consumo e melhorar a sensação bucal. E o sal, pouco mais caro do que a água, tem uma capacidade milagrosa de aumentar a atratividade dos alimentos processados.

Toda indústria depende destes três ingredientes. Basta tirar um pouco de sal, açúcar e gordura dos alimentos processados para não sobrar nada. Ou, pior, o que resta são as consequências inevitáveis do processamento: sabores repulsivos, amargos, metálicos e adstringentes.

Recomendo a leitura deste livro. Interessante, atual e crítico. Nos faz repensar sobre toda a cadeia alimentícia, os interesses comerciais envolvidos na produção dos alimentos, a forma como são distribuídos no interior dos supermercados, a propaganda direcionada para as crianças. Enfim, o autor mostra exatamente "como a indústria alimentícia nos fisgou".

Nos próximos post serão mencionados, de forma isolada, cada um dos componente "mágicos" utilizados pela indústria alimentícia para conquistar mais e mais consumidores que se tornam, ao longo do tempo, compulsivos por comida.

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